janeiro 29, 2010

Eu e musica musica e Eu!


Eu adorava as tardes de sábado. Enquanto minha mãe se mobiliza na faxina, eu brincava no corredor. Entre uma bananada e o intervalo da TV, um carão de mamãe “tire esses brinquedos do meio da!” “tem que tomar o copo todo” “vá escovar os dentes”. E assim, cansei de brincar.


A radiola ficava do lado da estante, aquelas radiola mesmo que mais parecia um móvel.
Como era pequeno, (ok ainda sou) eu tinha que subir no sofá para conseguir alcançá-la. Tirar os chinelos, afastar o sofá, e lá estava eu, em cima da estante, escolhendo o LP da minha preferência. Diferentemente das crianças de hoje que acoplam o seu acervo de hits em um aparelhinho que mede cinco centímetros. Mas não me queixo, nem as invejo. Herdei um gosto musical apurado desses LPs que existem até hoje. e ainda tenho eles.



Todos os dias começava por Raul Seixas. Um LP chamado “porque os sinos dobram”, cujo título foi inspirado no filme homônimo baseado em livro de Ernest Hemingway, traz alguns clássicos da obra de Raul Seixas, como "O Segredo do Universo", "Ide a Mim Dadá" e "Por Quem Os Sinos Dobram".
O álbum foi composto numa época conturbada da vida do cantor, depois do fim de seu segundo casamento, e após um episódio que lhe rendeu aparições nas páginas policiais, entre outros mais bem. Como não existia replay na antiga radiola Philips, sempre que terminava a música, lá tinha eu, que subir no sofá novamente e voltar uma linha do vinil. E era sempre a melhor parte. Já pulava do sofá quebrando tudo com uma vassoura fazendo de guitarra.
“Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida e que vive guardada
O eco de suas palavras não repercutem em nada
É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado, é...
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo”
Nossa era muito bom ouvir isso. eu era feliz.



Lembro da minha alegria quando no Dia das Crianças ganhei um walkman e aprendi a gravar a fita. Passava as noites escondido no escuro do sofá na sala ouvindo a FM e gravando os flashbacks na torcida de tocar alguma musica que eu gostasse

A música sempre foi como meu temperamento. Uma paz de domingo, uma inquietude de sexta-feira. Uma penitência de segunda, um samba de dor. De dor de cotovelo, claro.

Sou movido ao som. Às vezes o do silêncio. Mas sempre o som. gosto sempre de citar alguma musica, me lembrei especialmente da interpretação de Nara Leão “vou no raso, vou no fundo, mas um dia chego lá...”

janeiro 08, 2010

Brasileiro: o autêntico bunda mole.

Pra começar, antes de dar vazão ao seu ufanismo bananense leia até o final, depois se quiser me xingue à vontade.

Eu estava num supermercado outro dia, mais precisamente no caótico mês de dezembro, e as filas nos caixas eram intermináveis. Aquele monte de senhoras comprando castanhas, senhores comprando vinho e "galeras" comprando cerveja.

Se houvesse no lugar aquelas placas dizendo o tempo estimado de atendimento, elas deveriam indicar algo próximo da idade de Matuzalém. Pois bem, no meio desse "conforto" todo, uma caixa desliga sua máquina registradora, coloca uma plaquinha de "fechado" no seu posto e avisa que "está na hora do lanche".

Longe de mim pretender que uma caixa de supermercado morra de fome bem ali num dos templos da gulodice, tal qual morrer poeticamente de sede em frente ao mar, mas isso é problema dela. O problema do caixa fechado, que logicamente deveria ter sua operadora substituida, era do gerente da espelunca e o meu problema era só um: conseguir sair dali enquanto 2009 não acabava.

As pessoas que estavam na fila do caixa da mocinha que foi lanchar, eu incluído, começaram a reclamar de ter que mudar para outra fila, da demora no atendimento, de um monte de coisas, mas aquela reclamação tímida, meio que ao pé do ouvido, típica de um contínuo na fila de um café da manhã gratuito.

Como posso ser tudo, menos um cara "dócil", resolvi que aquele muro das lamentações não era o meu lugar e fui procurar o tal gerente, se é que aquele local possuia um.

Bom, sim, havia um gerente que estava ocupado batendo papo com os rapazes da entrega sobre as possíveis contratações do Botafogo. Fui obrigado a interromper a mesa redonda e falar com o dito cujo.

- Boa noite, o Senhor acha normal que um supermercado tenha filas deste tamanho, mal organizadas, entupidas de gente, lentas, e no meio disso tudo uma caixa saia para lanchar sem que ninguém a substitua?

- Senhor (lá veio ele com esse "Senhor", botam na sua b..., você sabe, e te chamam de "Senhor"), o Sindicato exige que elas tenham direito à uma pausa para o lanche.

- Amigo, não me interessa o Sindicato e nem o misto-quente da menina, ela que saia, mas é seu trabalho colocar alguém no lugar ou então você mesmo ir pra lá operar a caixa, já que não acredito que um gerente de supermercado não saiba fazer isso.

- Mas ela não vai demorar nada, em 10 minutos ela volta.

- Senhor (Rá! Agora era minha vez!), eu já estou aqui há uns 20 minutos e não faz parte dos meus planos dar mais 10 para vocês, mas já notei que essa conversa não levará a nada, me diz o telefone de reclamação do estabelecimento ou me entregue um livro para isso que eu não vou comprar mais nada aqui, porém vou relatar a forma absurdamente imbecil com a qual vocês tratam seus clientes.

- Tudo bem, Senhor (Bah, me devolveu a bola), vou pegar o livro.

Bom, depois do "desabafo", voltei pra fila para esperar o tal livro. E qual minha surpresa?

O livro chegou? O livro não veio? Nada disso! O gerente mandou que abrissem o caixa para me atender, isso mesmo, para que eu fosse atendido, somente eu e ele se livrasse do problema.

Chegou dizendo "Senhores, eu vou ter que abrir esse caixa 1 minuto para atender a este Senhor, mas por favor, permaneçam nos seus lugares".

Sabe o que aconteceu? Desculpem a caixa alta: TODOS OBEDECERAM!

Eu que precisei dizer: "Mas não mesmo! Que negócio é esse?! Quer dizer que porque eu reclamei você vai me tirar da fila e o resto das pessoas vai continuar na União Soviética? Nem pensar!".

Aí ele se tocou que havia deparado com um "sujeito pé no saco"(ou seja, eu) e abriu a fila para todos.

Moral da história: os políticos nos roubam, o Metrô nos trata que nem sardinhas em lata, a prefeitura deixa sua rua esburacada e mal iluminada mas te cobra impostos e multas cada vez mais leoninos, o Estado te cobra outros tantos impostos e te dá em troca um tratamento que nem chimpanzé de circo recebe, pedágios sobem, passagens sobem, os serviços só pioram, somos cercados de absurdos e excrescências diariamente e pouco ou nada melhora, sabe porque?

Porque temos no Brasil gente demais que fica quieta na fila do caixa, que vê alguém sendo privilegiado porque "defendeu seu lado" e não exige que defendam o lado delas também, gente que murmura reclamações mas não toma atitude nenhuma e, pior, quando alguém faz, ainda é taxado de "reclamão", "azedo", "baixo-astral".

Podem me falar "porque então você não vai pra rua protestar?". Porque eu seria um louco solitário que talvez conseguiria uns outros 50 loucos para andar atrás, se tanto.

E quanto ao resto? O resto murmura. Murmura e pasta.

janeiro 04, 2010

Eu acredito no meio-termo






Crescemos num mundo de generalizações. “Ah os homens são frios e canalhas”, “as mulheres são sensíveis e interesseiras”, “casados não transam”, “todo universitário é maconheiro”… E por aí vai.
Mas eu sou contra certas generalizações, principalmente acerca de relacionamentos e solteirice.
Não são todos os solteiros que estão encalhados. Não são todos os solteiros que são pegadores. Não são todos os solteiros que querem só farrear e não são todos os solteiros que estão ‘procurando’.

Gosto de falar sobre relacionamentos e gosto de ajudar minhas amigas e amigos quando falam sobre isso. Mas sempre surgem aqueles papos “ele é homem, é óbvio que estava pensando nisso”. Eu não concordo totalmente. Existem sim certos padrões de comportamento na nossa sociedade. Mas não podemos querer prever o futuro. Muita gente morde a língua e se surpreende por causa disso. E o melhor a fazer é simplesmente aprender a ouvir e a observar, e ficar em cima do muro antes de tomar uma decisão. Se precipitar é sempre prejudicial.

Me mostraram um livro dia desses que se chama “Ele Simplesmente Não Está Afim De Você“. Me disseram que há até um filme baseado nesse livro. Ele fala sobre mulheres que “caem” nas armadilhas de homens que na verdade só queriam bagunçar a cabeça delas. Por exemplo, um cara que não liga no dia seguinte, ou um cara que diz que a ama mas é casado, ou até mesmo um cara que se atrasa aos encontros. O livro pinta o quadro de que qualquer homem que aja dessa forma está apenas te enrolando. Eu gostei do livro mas ele me fez pensar nas generalizações. Será assim mesmo? Claro que não. Na verdade o intuito do livro é fazer as mulheres pararem de sofrer e fantasiar com relacionamentos que na verdade nem existem. Pois realmente é natural que num começo de relacionamento um dos lados idealize demais enquanto o outro está apenas curtindo. E muita gente acaba caindo do cavalo.

Mas dizer que o cara não está afim de você só porque não ligou? Mas e se o cara não está afim AINDA? E se tudo AINDA está começando? Por que as pessoas tem mania de querer rotular todo movimento? Nem todo homem é canalha. Nem toda mulher é boba. Ele pode não ter ligado porque estava ocupado com outras coisas. Ele pode ser um cara totalmente desligado. Ele pode estar afim de você E de outra pessoa e ainda estar avaliando! E daí? Pode sim existir um cara que é mal-casado e pode sim acontecer dele se apaixonar por outra. E daí? Ok, são excessões. Mas existe regra?

Prefiro acreditar que não existem regras e que cada caso é um caso. Se eu for me deixar levar por pessoas que pensam como os autores deste livro, vou acabar sozinho e ranzinza pra todo o sempre. Devemos aprender a observar ações, aprender a ouvir o que as pessoas tem a dizer sem medo. É muito difícil traduzir em palavras um sentimento, então aprendam a olhar nos olhos quando conversam com alguém.
As pessoas tem que ter tato, tem que saber discernir as coisas. Não podemos ser ingênuos e pensar que todo mundo é bom, mas também não podemos querer que todos nos tratem como reis ou rainhas. O mundo é feito de meios termos. Se soubermos observar os relacionamentos e as atitudes das pessoas com tolerância, acreditando que todos são humanos e não máquinas de quebrar-corações ou príncipes encantados a vida fica mais fácil e nos decepcionaremos menos. MUITO menos.


PS: Quem quiser ler o livro, clique aqui para abrir a versão e-book!