O relato abaixo é um desabafo. Você não precisa ler se não quiser, na
verdade, acho que pensei em voz alta, ou melhor, pensei de forma
escrita.
Não gosto de mostrar minhas dificuldades, nem de contar minhas
fraquezas, aliás este é o motivo de estar escrevendo, não gosto de ser
quem sou, estou frustrado...
Veja bem, não estou frustrado com o mundo que em pleno século XXI ainda
não aprendeu a resolver suas diferenças. Minha frustração não é com o
medo que o terrorismo tem espalhado pelos quatro cantos, nem mesmo com o
absurdo de dinheiro gasto em uma guerra de motivos, no mínimo,
duvidosos.
O verdadeiro motivo de minha frustração não está no Brasil, embora a
miséria e o desemprego roubem muito da minha motivação e os políticos
com sua corrupção e pilantragem, minem minha esperança de um futuro
melhor. Não é uma frustração por crer que os problemas do país são tão
culturais, estruturais e religiosos que meras medidas políticas não
conseguirão resolvê-los.
Tampouco estou frustrado com o cristianismo ou seja lá no que ele se
transformou nesta nossa era pós-reforma. Confesso que muito me espanta
ver as milhares de novas igrejas que surgem todos os anos, muitas delas
fruto de “uma nova revelação de Deus”. Também não posso aceitar ver a
mensagem de fé sendo trocada pela mensagem do pensamento positivo. É
difícil ver igrejas organizando congressos de valorização da identidade
denominacional em contraste com a mensagem de unidade deixada por Jesus.
Quero dar um grito contra a politização dos púlpitos. É inaceitável pra
mim os pactos políticos realizados por muitas igrejas, mas ainda não
tem sido o cristianismo o motivo que tem consumido minha alma.
Também não é minha igreja que tem me frustrado, embora me irrite ver a
forma desleixada que muitos membros dela têm vivido. Embora doa ver que
muitos dos que deveriam ser mestres continuam como recém-nascidos. Ainda
que eu saiba que muitas vezes cedemos à tentação e deixamos de lado a
mensagem cristocêntrica por mensagens mais agradáveis.
Tudo isso me chateia e por vezes tira a minha força, mas minha maior
frustração é comigo mesmo e a máscara que tenho carregado. Eu não sou
quem você pensa e confesso que às vezes nem eu mesmo sei quem sou. Me
sinto tão bem com esta máscara, ela se encaixou tão bem em mim que já
faz parte do que sou.
Não sei exatamente quando tudo isso deu início, acho que comecei a
experimentá-la quando ainda era criança: tentava não chorar quando
sentia dor, procurava ficar quieto quando na verdade queria fazer
bagunça. Mas era tudo muito simples, tudo sob controle. Eu podia voltar a
ser quem era a qualquer momento.
Na adolescência, minha necessidade de aceitação me fez usá-la com mais
frequência. Devia ter notado que estava ficando viciado nela. Devia ter
parado, mas tive medo do que os outros pensariam então, como o homem da
máscara de ferro, fiquei trancafiado dentro dela.
Entenda, minha máscara não é feia, eu escolhi bem. Ela demonstra
espiritualidade, santidade, inteligência, bom caráter e coisas deste
tipo. Às vezes pareço intelectual e outras vezes consigo até ser
engraçado. É o que os outros esperam de mim, ou pelo menos, o que eu
acho que esperam.
Porém, hoje meu pecado, minha arrogância e meu orgulho chegaram num
limite que começaram a me sufocar levando-me a uma dramática decisão:
ser consumido por eles ou quebrar a máscara e mostrar minha verdadeira
face?
Não estou muito certo se quero ver a imagem por baixo desta casca, mas
sei que não tenho outra opção se quero continuar vivendo. Então, com
coragem começo a quebrá-la. Não vou usá-la mais, nunca mais...
Pedaços vão caindo e começo a ver o que há anos estava escondido. Pra
minha decepção, o que vejo não me espanta. É a mesma imagem de anos, a
mesma imagem de sempre...
Mesmo doente, pareço são.
Mesmo triste, me vejo sorrindo.
Mesmo na minha confissão, tento me mostrar santo.
Estou frustrado.
“Senhor, Tu me sondas e me conheces” Sl. 139:1.
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