maio 31, 2012

Muito Amor

Para os grandes, eu penso.
E viro a cabeça pra pensar em outra coisa.
É mais feliz gostar, amar é pra quem pode.
Mas você ou a vida ou sei lá. Insiste.
E então chega enorme.
E só me resta rir que nem quando vejo um bebê muito pequeno e lindo.
Você ri. Vai fazer o quê? 
É o milagre maravilhoso da vida e eu ficando brega
e cheio de medo e cheio de vontade de te contar tantas coisas
e nem sei se você gosta de ouvir meus atropelos. 
Muito amor. 
E então fico querendo não trair a beleza.
Com você sinto a fidelidade de ser tranquilo.
Um pacto de paz com o mundo. 
Pra não me afastar de você quando estou longe. 
E é impossível então que os martelos do apartamento de cima
sejam realmente martelos.
E é impossível que as chatices do dia sejam realmente sem solução.
E as outras caras, aviso, olha, é amor. 
É amor. Ainda que eu quisesse,
não consigo mais nem um centímetro pra você. 
Desculpa. O amor é terrivelmente fiel.
Porque ele ocupa coisas nossas que nem existem nos sentidos conhecidos.
É como tomar água morna depois de ter engolido um filtro inteiro de água geladinha. 
Ninguém nem pensa nisso.
Muito amor. 
De um jeito que era mesmo o que eu achava que existia.
E é orgânico dentro da gente ainda que vendo de fora não pareça caber.
O corpo dá um jeito.
Minha casca reclama mas incha.
Tudo faz drama dentro de mim,
ainda que nada seja realmente de surpresa.
Sentir isso era o casaco de frio que sempre carreguei no carro.
Cansado, abandonado, amassado, sujo, velho.
Mas, de repente, tudo isso desistente tem serventia e a vida te abraça.
O guarda-chuva do porta-malas. 
A bolsa falsa do assalto que minha mãe mandava eu ter
embaixo do banco do passageiro.
Sentir isso são os trocos que você guarda pra emergência.
Amar grande é gastar reservas e ainda assim ter coragem pra dar o que não se tem.
Amar grande é ter vertigem no chão mas sentir um chamado pra voar.
Amar grande é essa fome enjoada ou esse enjôo faminto.
É o soco do bem na barriga.
É mostrar os dentes pra se defender mas acaba em sorriso.
É o sal que carrego no fundo falso da bolsa pra quando eu não aguentar a vida.
É o açúcar que carrego junto. 
É tudo que pode sair do controle.
É meu corpo caindo. 
E as almofadas de várias cores pra me dizer que pode dar certo. 
É o desespero aconchegante.
                                                                                        (texto de Tati Bernades)





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